sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sol da justiça

"O povo que caminhava em trevas viu uma grande luz" (Isaías 9.2)

Essa é uma mensagem de natal. A minha mensagem de Natal.
Eu sei que o Natal já passou, mas como Jesus não nasceu em dezembro mesmo, não faz diferença. Sim, Jesus não nasceu em dezembro. Belém, na Judéia, fica no hemisfério norte, portanto, em dezembro é inverno, ao contrário do Brasil, onde é verão...
A região da Judéia tem clima desértico: calor de dia, frio à noite. No inverno, o frio se intensifica, logo, quem seriam os pastores loucos que poriam o rebanho a perder pernoitanto ao relento no meio do deserto? Por causa disso, conclui-se que Jesus nasceu entre abril e setembro, pois é quando o clima seria propício a uma aventura na madrugada.
A data de 25 de dezembro se deve à influência pagã. Com a cristianização de Roma, muitos costumes e tradições foram abraçados pelo cristianismo, inclusive uma data para o nascimento de Jesus.
A data de 25 de dezembro era o dia do Deus Sol. Há alguma relação com a duração do dia... O cristianismo apresenta na pessoa de Jesus o Sol da Justiça, a luz que brilha e não se apaga, a luz do mundo que tira as pessoas das trevas.
Não importa que a data seja adaptada a partir do paganismo, não importa que seja a data errada, o importante é lembrar e saber que Deus demonstrou amor pela humanidade ao enviar seu único filho, para nos resgatar das trevas e nos conduzir à sua luz.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Decisão de aniversário

Alguns povos africanos consideram que é uma fixação estúpida essa que os "brancos"(leia-se "todos os povos ocidentais") têm de medir o tempo de vida em anos.
Numa tentativa de ironizar esse pensamento, o escritor Abdulai Sila descreve, no romance A última tragédia, o pensamento de uma mocinha que não compreendia por que sua patroa queria descobrir a idade dela. Ela diz em seu pensamento que se nasce, se é criança, quando chega o tempo de casar, se casa; quando chega o tempo de ter filhos, se os tem; e quando chega o tempo de envelhecer e morrer, isso acontece. Simples não é?
Talvez a vida fosse mais simples se não contassemos o tempo.
Mario Quintana, por sua vez, diz que "Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça..."
Entre duas noções tão distintas, percebi que é extremamente difícil mudar o arraigado pensamento do recomeço. Então, fiz uma resolução de aniversário:
Estou fazendo 18 anos pela segunda vez!
Eu não me sinto com a minha idade verdadeira, aliás, o que é uma "idade verdadeira"? Será que é a que temos na mente, na alma, no corpo ou nos documentos? Será que é a que o espelho nos oferece?
Querer fazer 18 anos novamente não tem nada a ver com uma suposta síndrome de Peter Pan, não é medo de crescer (acho que encaro a vida adulta muito bem); mas, quem sabe, seja o desejo de reviver algumas situações com a mente de quem já viveu alguns anos a mais, para, talvez, fazer as escolhas certas, desfrutar um pouco mais, ter mais cuidado com as pessoas e menos cuidado com as coisas. Sei lá...
Seria legal ter de novo a sensação angustiante de pensar que a vida termina aos 20, que uma semana é uma eternidade e que esperar é uma tarefa completamente impossível.
Que saudade! Era tão bom!
Neste aniversário, em que estive desanimada demais para comemorar, meu único desejo é o mesmo de Moisés, que, no fim da vida, escreveu:
"Ensina-nos a contar os nossos dias de maneira tal que alcancemos corações sábios"
(Salmo 90. 12)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Misericórdia???

Todavia, lembro-me também do que pode me dar esperança: Graças ao grande amor do SENHOR é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a sua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o SENHOR; portanto, nele porei a minha esperança. O SENHOR é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam; é bom esperar tranqüilo pela salvação do SENHOR. (Lamentações de Jeremias 3. 21-26 NVI)
Na releitura do Velho Testamento, deparei-me com Lamentações de Jeremias... Continuo descobrindo porque Jeremias ficou conhecido como profeta chorão...
O ponto alto e mais conhecido do livro são os versículos acima, principalmente o versículo 22, que também pode ser encontrado assim: "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim." Esse texto é lindo, não é? É extremamente reconfortante saber que o Senhor tem misericórdia de nós, que Ele é a nossa porção, que Ele é bom, que Ele nos salva. Mas quem disse isso e quando?
Jeremias não estava muito bem e não estava vendo as bênçãos de Deus caindo do céu sobre ele. O capítulo anterior do livro apresenta uma situação alarmante: as habitações e os muros da cidade haviam sido destruídos, os profetas já não conseguiam receber visões do Senhor, não havia comida e, por isso, as mães comiam os próprios filhos, o profeta chega ao ponto de dizer: "O SENHOR é como um inimigo; ele tem devorado Israel" (Lamentações 2. 5NVI).
Contudo, a situação em que Israel se encontrava era fruto de suas próprias atitudes e não culpa de Deus. Culpar Deus por essa situação é o mesmo que dizer que Deus é culpado pelo fato de um aluno que não estudou durante o ano não ter sido aprovado para a série subseqüente. A retenção foi conseqüência da atitude de um ano todo e não falta da bênção de Deus.
Olhar para um panorama como esse e crer que Deus não o abandonou é o que Jeremias faz de extraordinário. Mesmo sendo culpa do próprio povo, o profeta poderia dizer que Deus poderia ter sido mais "bonzinho" com eles.
Ao invés disso, Jeremias afirma que as misericórdias do Senhor são a causa de eles não serem consumidos. Deus tinha o direito de tê-los punido mais severamente. Deus poderia tê-los exterminado. Poderia criar um novo povo para si. Mas preferiu poupar alguns. Porque Deus não é justo, é misericordioso.
O salário do pecado é a morte. Eles mereciam a morte e eu mereço a morte, mas Deus é misericordioso. Suas misericórdias não têm fim, renovam-se a cada manhã.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Ordens absurdas

Na semana passada, terminei de reler Jeremias e descobri porque ele é chamado de "Profeta Chorão", na verdade, entendi a razão do choro dele. Um dos momentos em que ele teve boas razões para chorar foi o episódio que está relatado em Jeremias 41 a 43.
Nabucodonosor já havia levado cativo quase todo o reino, ficando para trás apenas uma meia duzia de 4 ou 5. Até o rei já havia sido subjulgado. Não havia esperança.
Mas quem sabe?...
Os líderes do exército dos que ficaram para trás decidiram que precisavam ouvir Deus, então procuraram o profeta Jeremias e disseram: “Por favor, ouça a nossa petição e ore ao SENHOR, ao seu Deus, por nós e em favor de todo este remanescente; pois, como você vê, embora fôssemos muitos, agora só restam poucos de nós. Ore rogando ao SENHOR, ao seu Deus, que nos diga para onde devemos ir e o que devemos fazer”. (Jr. 44. 2-3)
Jeremias consulta ao Senhor e Ele manda-os permanecer em Jerusalém.
O que você faria diante de uma ordem dessas?
O exército de Nabucodonosor poderia voltar a qualquer segundo. Todos já haviam sido mortos ou exilados. Eles seriam os próximos!... Vamos para o Egito! Afinal, Nabucodonosor não será abusado o suficiente para invadir o Egito, e se for, não vencerá. Certo? Errado!
Pois é... por mais absurdas que sejam as ordens de Deus, elas são certas, precisas. A ordem de ficar em Jerusalém era absurda, não fazia sentido: era arriscado! Mas foi Deus quem a deu, então precisa ser cumprida, não importa.
Na verdade, a maioria das ordens de Deus não faz sentido algum quando são dadas. Por exemplo: Abraão largou tudo para ir para um lugar onde nem sabia onde era. Adão não podia comer do fruto de uma árvore que estava no meio do seu quintal. Oséias teve que casar com uma prostituta. Ezequiel fez diversas coisas bastante bizarras.
É em horas como essa que penso que deve haver algum sentido seguro, concreto e firme que justifique a ida a um Projeto missionário em que não haverá evangelismo.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Por quê?

Uma jovem, recém casada, cristã fervorosa, ativa em sua igreja, atuante na sociedade, querida pelos vizinhos, amada por seu esposo, engravidou pela primeira vez. Depois de meses tentando, enfim eles teriam um filho. A gravidez foi tranqüila. No quinto mês, descobriram que era um menino. A família estava completa.
Mas, infelizmente, no nono mês, na quadragésima semana, houve um problema... O bebê nasceu, mas não resistiu e foi para os braços do Pai.
Ninguém esperava por isso. Quem poderia imaginar. Nada durante a gravidez apontava para esse fim. O quarto estava montado. O chá-de-bebê havia sido feito. Todos esperavam pelo bebê, mas Deus o levou. Por quê?
Essa história pode ser fictícia ou real, mas a pergunta é freqüente para a maioria das pessoas: por quê? Por que comigo? Por que não passei? Por que não consegui? Por que ele teve que morrer? Por que nasci? Por quê?
Acredito que eu já tenha perguntado milhões de vezes "por que comigo?" Só muito tempo depois que eu entendi algum propósito, mesmo que estranho, para aquele fato. Tentamos insistentemente encontrar uma justificativa imediata para entendermos os fatos estranhos e sem razão que acontecem conosco.
Aprendi a duras penas que em tudo há um propósito e que vale a pena passar pelo que for sem perguntar o porquê.
"Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos [...] Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face."
(1 Coríntios 13. 9,12)

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Lendo e relendo

Terminei de ler, recentemente, o livro A Bíblia que Jesus lia, de Philip Yancey. Nessa obra, Yancey fala da dificuldade de ler o antigo testamento e da atualidade que a "Bíblia" de Jesus, dos apóstolos e da igreja primitiva nos apresenta.
O Antigo testamento tem um grande defeito: é excessivamente repetitivo. Em quase todos os livros há a convocação do povo a se voltar para Deus, para buscar a sua face, obedecer a seus estatutos. De vez em quando, aparece alguém repetindo tudo o que Deus fez pelo povo. O leitor desavisado pode achar que está lendo a mesma página.
Certamente, existirão os leitores que, como eu, acham que Eclesiastes não deve ser lido por pessoas deprimidas ou depressivas, pois pode causar suicídio; ou que não entendem o que Sansão faz ao lado de Débora e Gideão. Sempre me pergunto como um rei como Davi permitiu que registrassem seus deslizes...
Entretanto, pela fé, creio que foi Deus quem escolheu cada fato relatado no Antigo testamento, por mais estranho que pareça...
Por outro lado, o Antigo testamento é realmente atual. Assuntos como desobediência, pecado, depressão, estresse são muito freqüentes em nossas vidas e na vida de nossas igrejas. E aí, não parece que é repetição, que é difícil, estranho ou desnecessário, parece que foi escrito ontem para cada um de nós.
Depois que se vence a barreira da linguagem, parece uma carta dirigida a nós.
As repetições são necessárias, porque nos esquecemos freqüentemente do que dissemos, do que Deus nos disse, das verdades eternas, daquilo que não muda...
Os maus exemplos são importantes, porque vemos como Deus pode restaurar uma pessoa, como podemos cair no mesmo erro, como Deus fica triste e que Deus sabe que somos falhos.
Histórias esquisitas são também importantes, ainda não achei nunhuma aplicação prática para elas, mas deve haver, certamente...
Relendo o Antigo testamento, tenho me visto nas atitudes desobedientes e rebeldes do povo; nos momentos de desafio e depressão de Elias; de ser pecadora e referência como Davi; de achar que a vida não tem sentido algum e construir algo grandioso como Salomão.
Ler e reler o Antigo testamento pode ser uma grande aventura.

domingo, 4 de novembro de 2007

Horcruxes e vida eterna

Conclui a leitura de Harry Potter e o enigma do príncipe, de J.K. Rowling, (título original Harry Potter and the Half-Blood Prince). Percebi que a narrativa possui diversos pontos de contato com a Bíblia e gostaria de, hoje, falar de um deles.

O sexto e penúltimo livro da série inicia a conclusão da aventura do bruxinho Harry Potter e sua estada na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Rowling é bastante feliz neste livro, pois dá boas mostras da conclusão da série, a principal revelação é acerca de horcruxes. Horcruxes são objetos em que estão depositadas partes da alma de um bruxo, para que, assim, ele não morra, mas tenha vida eterna.

Harry descobre que Voldemort utilizou-se de horcruxes para continuar vivo; por isso, ele é desfigurado, pois partiu sua alma. Ao descobrir isso, Harry questiona seu mestre, Alvo Dumbledore, “por que ele não usou o elixir da vida, gerado através da Pedra Filosofal?” A que seu mestre respondeu: “Ele não queria ter uma vida dependente”. Essa frase me fez lembrar das palavras de Jesus: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (João 15.5 NVI).

Nós, na verdade, somos parte, não somos inteiros; por isso não podemos viver independentemente. E mais, a vida eterna só é possível se vivida na dependência de Cristo, qualquer tipo de tentativa de vida eterna independente resulta em sobrevida, ou melhor, subvida, como a vida de Voldemort. Ele queria viver eternamente através de seus próprios esforços.

A lógica de Deus é contraditória. Quando o obedecemos, Ele não nos trata como servos, mas como amigos. Quando nos humilhamos, somos exaltados. Quando oferecemos nossa vida, Ele nos surpreende nos dando Sua própria vida.

“Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá,
mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará”
(Mateus 16.25 NVI).

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Contradições

Uma amiga me disse que eu sou uma pessoa contraditória. “Contraditória?” perguntei. Ela respondeu que era no bom sentido, porque eu tenho posturas extremamente firmes que revelam quem eu sou e em que eu creio e, por outro lado, eu tenho hábitos e práticas que não são freqüentes em quem tem tantas convicções. Concluindo, ela me disse que era bom conversar comigo porque ela se sentia mais leve ou menos culpada por coisas que ela fazia.
Ouvir isso me deixou muito feliz, porque me senti bastante verdadeira, autêntica, sem máscaras. Quem sabe isso já seja um pequeno vislumbre de qualquer coisa parecida com o cristianismo autêntico. Quem sabe eu já tenha alguma semelhança com Jesus?
A Bíblia não pôs máscaras em ninguém ao retratá-los. É de conhecimento público que Davi, homem segundo o coração de Deus, era adúltero; que Noé era beberrão; que Moisés era homicida; que Salomão construiu o templo e foi o primeiro a profaná-lo. Se todos ficaram sabendo dos erros deles, por que os meus ficam escondidos, se é Cristo quem me justifica?
Jesus era tido como contraditório também. Ele pregava um padrão de vida excelente, mas andava cercado por prostitutas, ladrões, cobradores de impostos e toda a corja indesejável de Israel. Ele pregava o amor, mas provocou um belo prejuízo aos comerciantes das imediações do templo.
Paulo diz que Deus usou as coisas loucas do mundo para confundir as sábias. Isso também é contraditório. Jesus disse que quem quisesse ganhar a própria vida, a perderia, e quem a desse, ganhá-la-ia.
O cristianismo é cheio de contradições. O evangelho é loucura.
“Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos,
e a verdade não está em nós.”
(1João1.7)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Justiça, misericórdia e graça

Tinha sido avisado inúmeras vezes. Sabia que dessa vez não haveria perdão. Enquanto esperava na porta da direção da escola, lembrava o quão banal havia sido a provocação que o levara até ali. João, seu idiota, repetia para si mesmo, por que você aceitou brigar? Imaginava a punição que seus pais lhe dariam. Provavelmente, levaria uma surra sem igual e ficaria de castigo por meses. Já havia se conformado a não ver TV pelos próximos dias, nem jogar videogame, mas ainda esperava continuar treinando futebol, apesar das ameaças. Se eu tiver que conversar mais uma vez com sua diretora, nem o futebol será poupado!


Dona Márcia! Ouvira alguém chamando no fundo do corredor. Sua mãe havia chegado e já entrara na sala da diretora. Ele nem olhou para ela, temendo ser fulminado por seu olhar, mas sabia que só estava adiando esse momento, que, cedo ou tarde, chegaria. Os minutos que sua mãe passara na sala da diretora pareciam-lhe uma eternidade, uma angustiante eternidade...


Vamos. Foi a única palavra que ela dissera ao sair da sala da diretora. Seu olhar estava muito mais decepcionado do que fulminante. O que eu fiz? Pensava arrependido. Ver sua mãe decepcionada era pior do que qualquer punição. Ele merecia não poder jogar futebol pelo resto da vida. Sua mãe estaria certa se o proibisse.

Entraram no carro. Sua mãe continuava sem dizer palavra. Ele tentava imaginar o que ela pensava. Chegaram, e sua mãe permanecia muda. Ele se dirigiu ao próprio quarto; certamente, pioraria a situação se ficasse pela sala ou se ligasse a televisão. Enquanto subia as escadas, sua mãe quebrou o silêncio. Falaremos juntos com você, eu e seu pai. Ele fez que sim com a cabeça e prosseguiu seu caminho.

No quarto, ele se sentia como um réu que está para ser condenado. O relógio não andava, já havia verificado várias vezes se não estaria parado. Rolava pela cama. Remexia nos livros. Não conseguia ler nada. Não tinha coragem de ligar o computador, não merecia qualquer tipo de diversão. Imaginava que seus próximos meses seriam muito parecidos com aqueles momentos.

Seu pai chegou. Ouviu passos pela casa. Vozes conhecidas e decepcionadas. Silêncio. Por fim, passos na escada. A hora havia chegado, em alguns segundos conheceria sua pena. A maçaneta. Entraram. Seus pais estavam de mãos dadas. Isso significava que eles estavam em pleno acordo sobre o que ia acontecer. Puxaram duas cadeiras e se sentaram de frente para a cama. Ele sentou, não conseguia fixar o olhar em seus pais, olhava para baixo, envergonhado do que havia feito.


- Filho, você sabe que queremos o seu melhor, não é? - Começou seu pai.

O garoto fez que sim.

- Olhe para nós.

Ele ergueu o rosto, mas desviava o olhar.

- Nós queremos te ensinar algo muito importante.

Somente neste instante viu que o pai estava com um largo cinto nas mãos. Já esperava pela surra, mas se assustou com a largura do cinto.

- Nós queremos te ensinar três conceitos: justiça, misericórdia e graça. Diga, sinceramente, pelo que você fez, o que você merece?

Temendo agravar sua condenação, ficou em silêncio um tempo.

- Não tenha medo de dizer a verdade. Nós já decidimos o que vamos fazer, o que você disser não pode piorar sua situação. O que você merece?

- Castigo. - Sussurrou ele.


- Que tipo de castigo? Se você estivesse no meu lugar agora, que castigo você daria a seu filho? – perguntou o pai com voz mansa.

- Acho que daria uma surra nele e tiraria o que ele mais gosta. – Respondeu apreensivo.

- Então no seu caso, você merece ficar um bom tempo sem futebol, certo?

O filho fez que sim com a cabeça.

- Isso seria ser justo. Justiça é dar aquilo que se merece. Você comete um erro e paga por ele, mesmo que se arrependa, porque, mesmo arrependido, é impossível desfazer o que já foi feito, é impossível voltar no tempo. Por exemplo: uma pessoa que mata outra continua sendo um assassino, por mais que se arrependa, ele não pode devolver a vida ao assassinado. Contudo, a justiça tem um defeito, mesmo que a justiça mate o assassino, ela não devolve a vida ao morto.

João ergueu o rosto surpreendido pela fala do pai. Aonde será que ele quer chegar? Perguntava-se.

- Deus sabia disso. Mesmo que ele punisse o erro, isso não desfaria o erro. Por isso, dissemos que Deus é misericordioso. Me diga, se eu resolver ser bonzinho com você, o que eu faria?

- Não me bateria com esse cinto largo que está na sua mão.

- Sim, é verdade. Só isso? Eu manteria algum tipo de castigo? Ponha-se no meu lugar novamente.


- No seu lugar, se eu fosse um pai bonzinho, acho que haveria um castigo, só que leve. Não sei, talvez, deixasse meu filho sem poder sair de casa por uma semana.

- Você está raciocinando muito bem. Isso é ser misericordioso: dar uma pena leve ou não punir. Eu, você e sua mãe temos pecados, nós não pagamos por eles para sermos perdoados, porque Deus é misericordioso conosco. O que você acha de eu ser misericordioso com você e não te dar nenhum castigo?

- É errado! Eu mereço um castigo. Eu desobedeci. Eu tenho que ser punido. – As últimas palavras do pai não faziam sentido para João.

- Sim, João, o que você merece é um severo castigo, mas, se eu for misericordioso, você não será punido.

João não sabia se devia ficar alegre com a possibilidade de não ser castigado. Seus pais já haviam cumprido ameaças anteriores e sentia dores só em lembrar das ocasiões. O que acontecera a eles?

- Entretanto, João, Deus não se contenta em ser misericordioso. Imagine, novamente, se você estivesse no meu lugar, e, ao invés de cortar o futebol da sua vida, você resolvesse dar a ele um pacote de viagem incluindo ingressos diários para a próxima Copa do Mundo. O que você acha disso?

- Pai, isso é muito injusto! Eu nunca faria isso com um filho meu. Se ele desobedeceu, precisa ser castigado!

- É exatamente isso que Deus faz conosco, Deus vai além da misericórdia e age conosco graciosamente. Isso se chama graça. É dar aquilo que não se merece. Você merece castigo, mas ganha uma viagem. Deus nos dá o céu, mas merecíamos o inferno.

Não se sabe se João foi alvo da justiça, da misericórdia ou da graça dos pais, mas, certamente, ele foi alvo da Graça de Deus.

“Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões — pela graça vocês são salvos”. (Efésios 2. 3-5)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um herói da fé


“Todos estes viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; [...] reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra. [...] Esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, e lhes preparou uma cidade. [...] O mundo não era digno deles. [...] Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados.” (Hebreus 11)
Quando leio o texto de Hebreus 11, sempre me lembro dos heróis do passado, que eu só conheço de ouvir falar. Mas, hoje, esse texto me remete a um exemplo vivo, pelo menos por enquanto: pastor Xavier.
Hoje, à tarde, assisti ao vídeo de um culto de gratidão pela vida do pastor Xavier, no site da Igreja Batista Memorial da Tijuca (http://www.ibmt.org.br/). E fiquei impressionada com o vigor, a vivacidade e a convicção que ele demonstrava.
Há quatro semanas, os médicos declararam que ele teria, no máximo, 4 dias de vida. Na ocasião, o pastor Xavier declarou: “Senhor, estou pronto”. No dia 15 de setembro, ele pregou uma belíssima mensagem. Várias falas dele me impressionaram.
Ele disse que naquele dia deveria ser prestado um culto de adoração, o culto fúnebre seria depois. Fiquei impressionada com seu desejo de adorar a Deus, num momento de vida em que ele poderia estar murmurando.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a certeza que ele demonstrou na salvação em Cristo e no desejo de encontrá-lo face a face. Chama a atenção também a sensação de dever cumprido.
Ouvindo as palavras do pastor Xavier, creio que entendi as palavras de Paulo aos Romanos: “Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Romanos 14.8).

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Ensina-nos a orar

Quando penso na vida de Jesus, me admira como Ele gastava tanto tempo em oração. Mesmo sendo Deus, Jesus orava intensamente e freqüentemente.
Jesus sempre era visto orando, tanto que os discípulos, que certamente admiravam vários de seus hábitos, o pediram “ensina-nos a orar” (Lc11.1). Eles já haviam visto Jesus pregar, se portar em público, ler a Palavra de Deus. De todas as coisas que poderiam ter pedido para que os ensinasse, preferiram aprender a orar.
Antes de ensinar-lhes a orar, Jesus mostrou em sua própria vida a importância da oração da melhor forma: orando.
Jesus atende ao pedido dos discípulos e lhes ensina que devem orar por seus inimigos e por seus perseguidores (Mt5.47), orar para que não caiam em tentação (Lc22.40) e disse-lhes que tudo o que pedissem receberiam se confiassem (Jo11.22). Jesus lhes mostrou que poderiam orar em todas as situações.
Além de dizer-lhes pelo quê orar, Jesus ensinou-lhes qual deveria ser a postura de seus discípulos ao orarem.
Jesus lhes ensinou que deveriam orar em secreto (Mt6.6), que não deveriam repetir palavras sem sentido, que não deveriam fazer das disciplinas espirituais algo para mostrarem aos outros (Lc18.10).
Quando penso nisso, imagino que Jesus queria mostrar-lhes o quão íntimos de Deus eles poderiam ser através da oração. Ao invés de repetir-Lhe palavras sem sentido, poderiam expor-Lhe seus sentimentos. Ao invés de mostrar aos outros homens suas virtudes, deveriam mostrar para Deus suas fraquezas. Mais uma vez, Jesus quebrava paradigmas e aproximava-os de um Deus que queria se relacionar com as pessoas.
Em toda a Bíblia temos outras pessoas que nos incentivam a buscar a Deus pela oração, dando ênfase à postura:
Paulo falou às igrejas sobre oração ensinando que o Espírito Santo ensinaria a orar (Rm8.26), que deveriam orar incessantemente (1Ts5.17) e perseverar na oração.
Davi nos incentiva a buscar a face do Senhor sempre (1Cr16.11) e a nos quebrantarmos diante do Senhor: “um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás” (Salmo 51.17).
Conheço um folheto evangelístico que diz o seguinte sobre oração “Deus conhece o seu coração e está mais interessado na atitude do seu coração do que em suas palavras”. Sabemos que o Senhor resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes(Tg 4.6), isso tem muito mais a ver com postura do que com o que pedimos.

sábado, 29 de setembro de 2007

Em tratamento

Há muitas coisas no percurso da vida cristã interessantes, uma delas é que a vida cristã é uma trajetória que não tem fim. Ela começa, mas ela só termina (se é que termina, talvez culmina) no céu.
Por isso é interessante pensar na vida cristã como meu tratamento de rinite. Pode parecer engraçado, mas é bastante parecido.
Meu médico disse que tenho que manter o tratamento indefinidamente, preciso usar um remédio spray no nariz duas vezes ao dia. Para lembrar de usar o remédio, já pus alarme no celular, espalhei bilhetinhos pela casa, levei o remédio para o trabalho etc. Ainda assim, há vezes em que esqueço de usá-lo.
Sem remédio, eu acordo cheia de coriza, espirrando intensamente, tenho as piores reações alérgicas, preciso ter lenços de papel à mão durante todo o dia.
Quando estou usando o remédio, sem regularidade, espirro um pouco, às vezes há um pouco de coriza, mas dá pra viver.
Nas épocas em que me torno uma paciente exemplar e uso o remédio corretamente, nos horários certos, até me esqueço que tenho rinite.
A vida cristã é como o meu tratamento: se há observância da prescrição, não há problemas, parece que não somos doentes. Importante: o remédio é de uso contínuo.
O remédio diário contra a rinite espiritual é o diálogo com Deus. É necessário buscá-lo sinceramente, estar disposto a ouvi-lo falar pela Palavra.
Ler a Bíblia e orar apenas para cumprir uma obrigação diária é como usar mal o remédio: evita maiores transtornos, mas não resolve o problema.
Vale lembrar que não usar o remédio não é uma opção...
Falar disso me lembra um texto que Paulo escreveu aos Filipenses: "Escrever-lhes de novo as mesmas coisas não é cansativo para mim e é uma segurança para vocês" (Fil 3.1NVI)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Paciência e Poder


"O SENHOR é muito paciente, mas o seu poder é imenso"
(Naum 1.3a)

Estava estudando a Bíblia, quando me deparei com esse texto: "O SENHOR é muito paciente, mas o seu poder é imenso" (Naum 1.3). Na minha mania insuportável de analisar gramaticalmente o texto bíblico, fiquei me perguntando que oposição há entre ser "paciente" e "poderoso". Será que uma pessoa poderosa é impaciente? Por que existe esse "mas"? Que "adversidade" justifica isso?
Imaginei o seguinte: a contrução de uma casa. Geralmente, quem é poderoso, também é rico (poder e dinheiro vivem ligados...). Uma pessoa que não é poderosa vai contratar um pedreiro, vai comprar aos poucos os materiais de construção, vai implorar ao lojista para que a entrega não atrase para não pagar ao pedreiro os dias não trabalhados etc.
Uma pessoa poderosa poderia simplesmente contratar uma empreitera, dar um prazo de 5 dias e só!
Eu imagino Deus podendo contratar a empreiteira e preferindo chamar um pedreiro. Poderoso, mas paciente.
A casa a ser contruída é a obra que ele tem a fazer. O pedreiro somos nós. Ele prefere nos convencer a fazer o que Ele deseja, trabalhar no ritmo que Ele quer, para que no fim sejamos aperfeiçoados; ou melhor, para que sejamos perfeitos, como perfeito é nosso Pai celeste.
Ele é poderoso para nos transformar nas pessoas que Ele quer que sejamos em segundos, mas prefere ser paciente e esperar que "tomemos jeito".

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Trapo Imundo


"Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo"

(Isaías 64.6)


É tão estranho o senso de "justiça" que temos. Estamos prontos para julgar e condenar a qualquer um que nos faça mal, que aja em desacordo com os nossos "perfeitos" padrões de conduta, ou que simplesmente não seja como um de nós, ou seja, seja diferente.


Entretanto, não percebemos que não somos alvo da justiça de Deus, mas da sua misericórdia. Deus não é justo conosco, é misericordioso, é gracioso...


Se Deus fosse justo conosco, teríamos que observar os Seus padrões, ou seja, obedecer a TODOS os seus mandamento e não apenas alguns, a inobservância de apenas um dos mandamentos seria uma quebra dos padrões de Deus, isto é, seria suficiente para a condenação. Apenas um erro seria suficiente para nos mandar para o inferno.


Contudo, Deus não é justo conosco, Ele é misericordioso! Ele nos perdoa e nos recebe, mesmo que sempre falhemos nas mesmas coisas.


Nosso senso de justiça não é justo, é como um trapo imundo diante da justiça de Deus. Não recebemos os pecadores como fazia Jesus. Não perdoamos a quem nos entristece como Deus faz conosco. Não somos graciosos como Jesus, nem misericordiosos como Deus.

sábado, 1 de setembro de 2007

Poética ou patética

Indignada com o que ando ouvindo, vendo e assustando-me, criei uma paródia do poema "Poética", de Manuel Bandeira.


Estou farta do cristianismo farisaico
do cristianismo legalista
do cristianismo vaca-de-presépio, que concorda cegamente com o [que pastor diz.
Estou farta do cristianismo que pára, julga e mede o comprimento da [saia da irmã.

Abaixo os hipócritas
Todos os rituais sobretudo os de tradição
Todas as reuniões sobretudo as disciplinares.
Todos os moveres proféticos.
Estou farta do cristianismo moderado
mediocrite
koinonite
teimosite
De todo cristianismo que põe de lado a divina graça, que dá perdão.
De resto não é cristianismo.
Será lista de afazeres ou tentativa humana de alcançar a salvação.
Quero antes o cristianismo puro e simples
o cristianismo dos pecadores
o cristianismo dos doentes
o cristianismo dos maltrapilhos de Deus

- Não quero mais saber do cristianismo que não seja libertação.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Escolhas

Por esses dias, um amigo a quem amo muito me confessou um pecado que me chocou bastante. Não era nada que eu já não tivesse feito ou pensado em fazer na idade dele. Mas a minha mente de adulta o condenou e ficou perplexa.

Depois dos momentos de perplexidade, tentei me colocar no lugar dele, vivenciar as pressões que ele sofre e imaginar as carências que ele tem, para, então, olhá-lo com misericórdia. Lembrei da minha adolescência e pensei no que fiz quando vivi algo parecido, sem confiar em meus pais, cercada de olhares que mais me julgavam do que me amavam, sem ter com quem, simplesmente, desabafar.

Percebi que as escolhas que fiz naquela época me fizeram quem sou hoje. Lembrei de uma frase de Martinho Lutero que dizia “ou o pecado nos afasta da Bíblia ou a Bíblia nos afasta do pecado”. Pensei nas escolhas erradas que fiz durante a vida. Pensei no caminho que tive que percorrer, após cada erro, para retornar ao rumo certo. Descobri que os caminhos e descaminhos que percorri me ensinaram.

É lógico que seria muito menos doloroso aprender sem errar, mas quem é que aprendeu a andar de bicicleta sem cair? Ou não foram as quedas da bicicleta que nos fizeram aprender a levantar? Posso estar redondamente errada, mas acredito que, na vida cristã, as coisas também são assim. São as quedas que nos ensinam acerca de arrependimento, confissão e acerto. Elas nos revelam a misericórdia de Deus, nos fazem ver um Deus que nos ama incondicionalmente.

Sobre isso o apóstolo Paulo fala: “onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?” (Romanos 5.20-6.2 NVI).

Eis aí a nossa escolha de todos os dias. Permanecer no pecado ou fugir dele. A Bíblia nos afasta dele. O Senhor promete suprir cada uma das nossas necessidades, inclusive, aquelas que pensamos que só o pecado pode suprir.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Confiança

Quando eu era criança, gostava de esperar meu pai chegar do trabalho pendurada na janela. Quando ele chegava em casa, eu pulava no colo dele, sem, ao menos, esperá-lo me chamar, nem sequer me olhar. Ele nunca me deixou cair. Hoje sei que dei grandes sustos e causei muitos males à coluna do meu pai, mas o meu pulo prova a confiança que tinha nele.

Ao pular, eu tinha certeza de que não cairia.

É engraçado como há várias histórias semelhantes entre pais e filhos. Mais curioso é como uma criança confia no pai, mesmo sendo ele falível e, quando crescemos, não confiamos em Deus, que não falha...

Há uns meses, era início do mês, próximo à data do meu pagamento, fui a uma loja, comprei alguma coisa da qual não me recordo, paguei no débito automático, mas eu não tinha olhado ainda o saldo da minha conta, se, por acaso, o salário não tivesse sido pago, não haveria nenhum dinheiro para pagar o gasto feito. Como o pagamento nunca tinha atrasado, eu tinha certeza de que, naquele dia, já havia dinheiro em conta. E, realmente, havia.

Ao pagar a conta, eu tinha certeza de que havia dinheiro.

Às vezes, é mais fácil acreditar que o pagamento foi depositado na conta do que crer que Deus supre cada uma das nossas necessidades. E essa é uma promessa:

O meu Deus, segundo sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades. (Filipenses 4.19)

É comum acreditar em pessoas, em entidades, empresas, mas é difícil confiar em Deus para as coisas da vida.
Por que é mais fácil duvidar do que confiar, se na confiança há certeza?

sábado, 18 de agosto de 2007

Coração, ação e reação

Ouvi, há pouco tempo, uma afirmação que me fez pensar um pouco sobre ser e parecer: "Saul, perto de Davi, era um santo; o que fez Deus escolher Davi foi seu coração".

Realmente, as atitudes de Davi aparentam ser mais graves dos que as de Saul. Saul, na verdade, era um homem cheio de boa vontade. É só lembrar da história: Saul estava ansioso, porque o exercito estava ansioso e o pressionava a agir, então ele, com toda a boa vontade, achou por bem "acelerar o processo" e oferecer o holocausto ele mesmo, ao invés de esperar o profeta Samuel chegar. O simples fato de oferecer o holocausto o fez ser rejeitado por Deus. Parece injusto... Ele estava se sentindo pressionado e fez o que achou que era melhor. Seu objetivo não era desafiar Deus, nem menosprezar o profeta Samuel. Ele só queria atender a expectativa das pessoas que estavam ao redor dele. Pessoas que esperavam por ele. Ele era o Rei. Ele tinha que agir como rei. Bom, uma coisa leva a outra. Uma atitude precipitada... E o caldo desandou.

Davi, ao contrário de Saul, sabia claramente em que cumbuca estava metendo a mão. Ele sabia que Bete-Seba era casada, quando a convidou para o palácio. Ele sabia que ela estava grávida, quando tentou fazer com que Urias dormisse com ela. Ele sabia que Urias morreria, quando mandou que ele fosse posto na frente de batalha. Davi sabia o que estava fazendo. Ele premeditou todos os seus atos.

Mas o coração de Davi...

Ao ter seus olhos desvendados, Davi disse: “Pequei contra o Senhor”. Enquanto Saul disse: “Quando vi que os soldados estavam se dispersando [...] senti-me obrigado a oferecer o holocausto”.

Um preferiu justificar o erro e o outro escolheu reconhecê-lo.

Ouvi, uma vez, que se sabe quem, de fato, somos muito mais por nossas reações do que por nossas ações. Nossas reações revelam nossos corações.

O coração de Davi era um coração contrito. E foi por isso que ele se tornou referência. Todos os reis depois Davi foram comparados a ele. Sobre um bom rei era dito: “ele foi como o meu servo Davi” ou “ele andou nos caminho do meu servo Davi”...

As ações de Davi eram humanas, mas suas reações revelavam o coração disponível para Deus.

In certezas

Todos os dias, ao sairmos de casa, não sabemos mais se vamos voltar... Quando chegamos, não sabemos se encontraremos ou reencontraremos a quem amamos. Se marcamos um compromisso, não temos como prever se, de fato, o que queremos fazer irá se concretizar.
Em épocas de incertezas constantes, só podemos crer nas poucas coisas que não mudam, como Deus e Sua Palavra. É sobre essas coisas que quero falar... ou não. Certezas, incertezas... A verdade é que a vida é muito curta e vale mais a pena vivê-la em função das coisas duráveis e certas.