quarta-feira, 6 de abril de 2022

A cura pelo mar

 


A minha janela tem vista para uma parede. As três janelas do meu apartamento têm vista para uma parede. Uma parede pintada de branco encardido de velho e lodo, pintura antiga e castigada pelo tempo.

Nos meses em que fiquei de cama, uns 18 meses aproximadamente, a minha vista foi a tal parede. Eu ansiava por uma outra vista. Ver estrelas, ver a lua, uma montanha, o mar. Eu sonhava com o mar, desejava o mar. Queria sentir o cheiro salgado do mar. 

E não perdi cada uma das chances de me encontrar com as águas salgadas. Ou como gosto de dizer: visitar Iemanjá.


Praia Vermelha foi a primeira parada. Eu fui dirigindo. Estava louca, ansiosa. O dia estava frio, ventava. Não era um bom dia para banho. O mar estava de ressaca, mas o cheiro da água salgada inundava minhas narinas.


Arraial do Cabo foi a segunda parada. Eu havia feito os exames e estava na iminência de saber o diagnóstico. Um dos exames havia dado positivo para proteína de Bence Jones. A presença dessa proteína na urina é marcador de quatro doenças, sendo três delas malignas. Ainda faltavam 10 dias para a consulta, então eu resolvi fugir e curtir uma semana na praia, longe de tudo, pensando em outra coisa, para não ficar pesquisando na internet sobre as doenças ou sofrendo por antecipação. Eu não precisava sofrer por um câncer, sem um diagnóstico fechado.

O diagnóstico foi gamopatia monoclonal de significado indeterminado. A única das tais quatro doenças que não era câncer. 


Aí veio Búzios! Final de outubro, início de novembro. Um passeio com as amigas. Um apoio sem par. Um momento de olhar para mim, de pensar no novo corpo, tentar descobrir o que ficava bem, escolher o novo guarda-roupa. 



Escolhi as praias, os passeios, dirigi tudo o que pude.  Conheci cantinhos de Búzios que ainda não havia descoberto.

No meu aniversário, eu abusei da sorte. O sol chegou com o verão e eu corri pro mar de novo.


Observe que eu estava bem magrinha. Nessa foto, eu já estava com anemia grave. Dois médicos mencionaram a hipótese de transfusão de sangue. Mas não foi necessário 🙌🏾.


Aprendi com uma amiga que sempre vale a pena ter um biquíni à mão. Foi o que aconteceu nessa visita à praia da Barra. Foi por acaso. No lugar de voltar pra casa, dei meia volta e fui tomar um sol.



O carnaval de 2022 também fez uma parada na praia do Pontal, ao lado do meu amorzinho. 

Em cada visita ao mar, era uma renovação, um refrigério, um revigor. 

Dizem que água com açúcar acalma, mas o que cura mesmo é água salgada! 

🌊🐳🐟🐚🧜‍♀️🐬🐋














quinta-feira, 31 de março de 2022

A cura pela dança

 Sempre gostei de arte. Todo tipo de arte. Música, dança, pintura, poesia, escultura... Nunca tive talento para nenhuma, o que não me impediu de me deliciar diante da arte e usufruir dela.

A poesia, certamente, é a mais próxima de mim. Adoro dizer que ganho a vida recitando poesia para adolescentes (como se o trabalho do professor de literatura se limitasse a isso rs). 

Entretanto, no processo de cura e restauração da saúde e do corpo, não foi a poesia que me levantou. Foi a dança que me acompanhou. 

De agosto de 2020 a janeiro de 2022, vivi todo tipo de fragilidade, falta de força e impotência possível. No primeiro carnaval da pandemia e ainda me tratando de tuberculose, eu tive que dar aula na sexta-feira de carnaval a caráter (de algum jeito).

O desejo de dançar, de pular carnaval me impelia a fingir que era possível, ao me conformar que não dava. 2021 seria um carnaval recluso, obrigatoriamente recluso.



O carnaval de 2021 me fez lembrar dos sambas-enredo do ano anterior. Eu sabia quase todos do grupo especial e tinha um preferido, que virou videozinho com dancinha no pole.




A dança se tornou muito importante porque um dos sintomas / efeitos colaterais mais intensos foi a rigidez. Eu acordava totalmente rígida, com uma enorme dificuldade de movimentar pernas e braços. Por vezes, ao anoitecer, sentia a mesma coisa. Não conseguia ajoelhar ou agachar. Fiquei com muitas limitações de movimentos.

Tive diversos inchaços nas mãos, nos cotovelos e nos pés. Ainda aparece um calombo na minha coluna de vez em quando...

 Dançar é o contrário disso.

Aprendi com uma pole friend que vc só precisar sentir a música e se soltar. A dança foi um remédio. A cada melhora, ainda que mínima, eu dançava. Eu gravava um vídeo no pole com uma coreô improvisada, postava em busca de biscoito rsrs.

Depois do agravamento da anemia, em dezembro de 2021, qualquer movimento se tornou muito difícil, eu vivia cansada. Não levantava para nada. Até o dia 10 de janeiro, dia que eu considero o ponto de virada no meu tratamento. 

No carnaval de 2022, eu voltei a dançar. E foi em uma roda de samba lotada, com música ao vivo, com bateria da Mangueira. Eu saí rouca, suada e realizada! 

Foi depois desse dia que percebi que eu podia voltar a fazer de tudo. Sim, estou sendo cautelosa, mas estou fazendo um pouco de cada coisa. Natação. Musculação. Maracatu. Quero abraçar o mundo inteiro com as pernas! 

E tudo começou com a dança. Com o samba!





sexta-feira, 28 de maio de 2021

Cheguei ao peso ideal

 Talvez eu devesse colocar "peso ideal" entre aspas logo no título, porque a ideia de que existe um peso que as pessoas tenham é muito esquisita, né? Mesmo assim, eu passei anos lutando contra a balança e correndo atrás desse tal "peso ideal".

Enfim, em 2020, a perda de peso veio! E detalhe: não fiz tantos sacrifícios assim, foi quase natural. Emagreci 35kg!!!!!!  Vejam aí o antes e depois.


Eu digo que o processo foi natural porque eu não mudei muito a rotina de atividades físicas e tipo de alimentação que eu já adotava há anos fazendo dieta. Enfim, estava dando certo!

Certo?

Errado! 😟

Em 2020, o ano do emagrecimento, eu fui diagnosticada com tuberculose. Um dos sintomas da tuberculose é a rápida perda de peso. Uma médica sinalizou isso em uma consulta. Ela estranhou a perda de peso e eu respondi que estava fazendo reeducação alimentar e felicíssima por estar emagrecendo. Nessa época, eu tinha algumas dores no corpo, mas os exames não acusavam absolutamente nada.  Inclusive, esta é a razão para eu achar que parte desse emagrecimento foi a reeducação alimentar mesmo.

Eu comecei a perceber o emagrecimento em abril de 2020, eu eliminava uns 3kg por mês aproximadamente. 

Na segunda metade de agosto, as dores no corpo (que tinham sumido) ressurgiram intensamente e as idas à emergência apareceram.

Estranhamente, nem a tomografia acusava algo, mas em um intervalo de uns 15 dias entre um exame e outro, um líquido na pleura se revelou.

Foram 15 dias hospitalizada em busca de um diagnóstico. No dia 01/10, a investigação histológica confirmou a suspeita de tuberculose. 

Antes da internação, eu tinha eliminado 20 kg entre janeiro e setembro. Em outubro, eu emagreci 7 kg e continuei emagrecendo mais 8kg, mas agora sem atividade física ou dieta. 

Nessa segunda fase da perda de peso, eu me achava defeituosa, feia, doente. Tornou-se muito dolorido. Eu não conseguia me olhar no espelho. Autoestima não existia. Nenhuma roupa cabia. Detalhe: no meio da pandemia e tuberculosa, eu não tinha a menor coragem de ir a uma loja.

O emagrecimento com o qual eu sonhava por anos havia se tornado um pesadelo, não só pela autoimagem, mas principalmente pelos vômitos, pela falta de apetite, pelas dores que o tratamento desencadeou.

É muito forte o imaginário de que atingir o peso ideal vai trazer felicidade. Eu saí de 85kg para 50kg. Hoje, eu sonho em recuperar peso e as minhas saúde e disposição, porque a tuberculose deixou sequelas.

Se meu eu de hoje pudesse encontrar com o meu eu de anos atrás, eu diria a ela para não ficar tão preocupada com o peso, porque isso não traz felicidade. 


domingo, 17 de março de 2013

Terminei a corrida








Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. (2 Timóteo 4:7-ARA) 

Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. (2 Timóteo 4.7-NVI) 

Fiz o melhor que pude na corrida, cheguei até o fim, conservei a fé. (2 Timóteo 4. 7-NTLH) 

Na segunda carta de Paulo a Timóteo, Paulo se despede do jovem pastor dizendo que seu tempo já acabou e prenuncia sua morte. Paulo compara seu ministério a uma prova de atletismo: a corrida. Na Nova Tradução da Linguagem de Hoje (NTLH), consta que Paulo considera que fez o melhor que pode. Por isso, ele está satisfeito com o resultado de sua vida. Ele chega ao fim da jornada desfrutando do contentamento que só o realizar o que temos que fazer nos proporciona.

Ao escrever estas linhas, cultivo o mesmo sentimento: acabei a carreira, terminei de fazer o que tinha a realizar, fechei um ciclo.

Hoje é um dia muito especial (e ao mesmo tempo difícil) para mim, pois é o dia em que me despeço. Muito diferente do que aconteceu com o apóstolo Paulo, não estou à beira da morte, mas tenho diante de mim uma nova jornada, uma nova corrida. E sei que, antes de começar esta nova caminhada, eu terminei a minha corrida aqui na Primeira Igreja Batista de Madureira.

Há doze anos, me integrei a esta igreja, que foi e tem sido uma extensão da minha família. Durante um período emocionalmente complicado, foi também extensão da minha casa. Alguns dos irmãos me emprestaram ouvidos e braços, além de caminharem comigo em momentos muito peculiares.

Nesses 12 anos, vi Deus agir de diversas formas e ouvi Deus falar através da Bíblia, dos irmãos e das circunstâncias. Fiz amigos mais chegados que irmãos. Aprendi muito mais do que ensinei. E tive o privilégio de compartilhar da vida em Cristo.

Além disso, vi a igreja crescer, multiplicar as frentes de atuação e mudar de cara. A minha vida também mudou muito desde que cheguei aqui. O que não mudou foi o propósito de glorificar a Deus em todas as coisas e obedecer à Sua Palavra.

Estou para começar uma nova jornada me unindo a outra igreja. Vou começar outra corrida. Tenho plena convicção de que fui conduzida por Deus a esta nova igreja. Não procurei igreja, nem pensava em deixar nossa igreja, mas as coisas de Deus são assim: elas simplesmente acontecem.

Peço que os irmãos orem por mim nesta nova jornada e agradeço o amor, o carinho e o cuidado que todos tiveram comigo nesses 12 anos.

No amor de Cristo que nos une,

Erica Bispo 

domingo, 28 de outubro de 2012

Igreja nova?



Tenho o péssimo hábito de assistir a vários programas de TV evangélicos e até mesmo canais de alguma denominação protestante. Tenho reparado que as mensagens mudaram. 

Palavras como vida eterna, salvação, sacrifício, serviço deixaram muitos púlpitos e deram lugar a outras como vitória, bênção, conquista etc. Estas palavras estão, sim, na Bíblia, mas elas estão em contextos muito específicos. As palavras centrais do evangelho são arrependimento, fé e salvação.

Se for feita uma pesquisa na saída da igreja acerca de qual bênção as pessoas estão esperando, se ouvirão respostas: um carro, uma casa própria, um casamento... alguns mencionarão a salvação de um parente. Entretanto, poucos falarão de crescimento espiritual, ou o fim da miséria no Haiti, por exemplo.

Outra coisa: quantos pais hoje incentivam seus filhos a serem missionários? Na minha igreja, quando aparece alguém que começa a se envolver em missões, logo aparece também alguém para dizer: "como você é corajoso!", "como você faz isso com seus pais?", "sua mãe deve estar com o coração na mão".

Atualmente, só tenho perguntas...

Será que não confiamos mais em Deus? Será que algum dia confiamos em Deus?

Será que esperamos em Deus apenas para nos dar uma boa vida e não mais esperamos a vida eterna?

Onde estão aqueles que alvoroçaram o mundo?

Será que o que se gasta com papel, não comporia uma boa ajuda para um país em estado de miséria?

Se o reino de Jesus não é deste mundo, por que temos que eleger representantes evangélicos? Se uma nação abençoada tem políticos tementes a Deus, os países muçulmanos são amaldiçoados?

Qual seria a preocupação de Jesus se vivesse hoje no Brasil: ele organizaria a marcha pra Jesus?

"Se esperamos em Cristo só nesta vida, 
somos os mais miseráveis de todos os homens." 
(1 Coríntios 15.19)


sábado, 23 de julho de 2011

Correndo riscos...



Ler Eclesiastes é sempre fantástico. Estou pensando seriamente em decorar o livro todo, minha crise é escolher qual versão vou memorizar...

O Pregador é realmente incrível. Eu tenho uma teoria: tudo que uma pessoa precisa saber para viver bem está em Eclesiastes. Há um filme cujo protagonista afirma que as respostas da vida estão n'O poderoso chefão, mas é mentira! As respostas estão no Eclesiastes, pode crer. Duvida? Leia!

As respostas da vida não estão nos psicotrópicos, nem n'O poderoso chefão.

Hoje, minha questão é com o capítulo 11 de Eclesiastes. (1) (2) (3).

É fato que o Pregador viveu intensamente. Ele experimentou de tudo. Aí, no final da vida, ele aconselha que você se arrisque!!!

Repare o versículo 1:
Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás. (ARA)
Lança o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás.(ARC)
Empregue o seu dinheiro em bons negócios e com o tempo você terá o seu lucro. (NTLH)
Atire o seu pão sobre as águas, e depois de muitos dias você tornará a encontrá-lo. (NVI)

Repare que há uma preocupação com o futuro, mas o livro todo fala sobre desfrutar o presente. Então, ele ensina que o melhor jeito de viver o presente e garantir um futuro é arriscando-se! 

É como a parábola dos talentos (4), os servos que foram elogiados pelo seu senhor foram os que se arriscaram e investiram para multiplicar os talentos. 

A mensagem é arrisque-se! Porque, se você não arriscar, não poderá desfrutar do que a vida pode lhe oferecer. Afinal, quem olha pro tempo nunca plantará e quem olha pras nuvens nunca segará. (5)

Como o acaso e o tempo agem sobre tudo, como você não sabe qual semente vai frutificar, como você não sabe com o que você terá sucesso, invista, arrisque, tente, mergulhe! Mas faça isso de todas as maneiras possíveis. Faça tudo o que puder fazer. Você pode morrer amanhã... e aí? De que adiantará tantos planos para o futuro, se não houver futuro?


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Heresia pouca é bobagem...



Só vou listar algumas coisinhas que tenho lido por aí. Nem vou me dar o trabalho - hoje - de refutar. Só faço umas perguntinhas...

Antes de começar, uma pergunta: como é que as pessoas podem ser tão criativas para escrever/ pensar/ falar abobrinha?...

Heresia 1:
"O segredo é saber a quem devo honrar. A sabedoria é discernir os níveis de honra. Não tratamos todos de forma igual. Se você vir alguém dizendo que trata a todas as pessoas da mesma forma desconfie, pois os tratamentos devem ser diferenciados." (Mike Murdock - Congresso MIR 2011)

Pergunta: e aquela história de não fazer acepção de pessoas (Cf. Rm2.11)?


Heresia 2:
"A Bíblia diz que homens sérios deveriam ser levantados como diáconos. Estevão foi levantado como diácono. Ele viu Pedro ministrando, e com a ministração ganhando 3 mil almas. Ele quis fazer o mesmo, ministrar com o manto apostólico, levou 3 mil pedradas. Nem sempre o que você faz é a vontade de Deus para você." (Renê Terra Nova - Congresso MIR 2011)

Pergunta: Tiago e Paulo também desejaram o "manto apostólico" por isso sofreram?


Heresia 3:
"Quando você quebra um princípio de honra, você legitima o inimigo a aprisionar sua honra e seus bens. Muita gente tem carro e não sabe, está na casa do inimigo." (Renê Terra Nova - Congresso MIR 2011)

Pergunta: Posso buscar meu carro?

Heresia 4:

"Imagine que em uma Igreja estão expulsando um demônio, mas não possui autoridade para fazer ficar quieto um menino de 10 anos." (John Kelly - Congresso MIR 2011)


Pergunta: Cuma?

Heresia 5:"Depois de um longo momento de oferta e palavras proféticas sobre os ofertantes, o doutor enfatiza que o Senhor, na verdade, não busca pessoas que anseiam dar, mas aqueles que sabem receber." (Mike Murdock - Congresso MIR 2011)

Pergunta: e aquela história de que Deus busca adoradores que o adorem em Espírito e em Verdade???

terça-feira, 26 de abril de 2011

Que exegese!



Eu me pergunto todos os dias: por que eu insisto em  ler essa gente, meu Deus??? Eu já sei que eles só falam besteira, e, mesmo assim, eu insisto!!!

Só posso concluir que eu gosto de sofrer. Ou gosto de ter o que criticar... (hehehe)

A minha vítima de hoje era um ilustre desconhecido até ser retwittado por Sarah Shiva. 

No microblog, o pastor Eber Rodrigues fez a seguinte declaração:
Jesus disse: "tudo que ligardes na terra terá sido ligado no céu", ou seja a terra governa o céu! Precisamos Agir para o céu reagir...  (by @eberouvirecrer)

 O azulzinho é um detalhe meu, tá?

Eu já tinha lido o texto de Mateus 18.18 várias vezes, mas nunca tinha pensado que Jesus tinha transferido o poder dEle para as pessoas!

Fiquei completamente espantada! Pense: a terra GOVERNA o céu. Ou seja, os homens governam Deus!!!

Se você decide, aqui na terra, você faz o céu mudar de opinião!!! 
Afinal, precisamos "agir para o céu reagir", porque, certamente, Deus não faz nada sozinho! [muita ironia]

Pergunta: como é que Deus fez todo o mundo sem antes da opinião dos homens? Tadinho de Deus...

Será que é preciso ser PhD em Divindade para entender que Mateus 18. 18 não tem nada a ver com o que Deus faz ou deixa de fazer?

Não precisa ser teólogo para saber que tudo é dito dentro de um determinado contexto. Na verdade, qualquer aulinha de língua portuguesa ensina que o contexto faz um texto mudar de sentido.

Durante a Idade Média, no auge da Inquisição, a Igreja lia esse texto assim: se nós - supremos detentores da vontade de Deus - excluirmos tal pessoa, ela vai para o inferno. Era dentro dessa lógica que pessoas eram lançadas na fogueira, condenadas a penas inomináveis ou excluídas do convívio social.

O problema dessas exegeses de botequim é que a Bíblia tem que ser considerada como um todo. Então, se Jesus diz que o que será ligado na terra será ligado no céu, há que se considerar também alguns outros textinhos: 

"Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam."
(Sl 24.1);

"Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra"
(Mt 28. 18);

"Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso" 
(Ap 1. 8);

"Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura" 
(Isaías 42.8); 

"A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém." 
(1Tm 6.15.16)


Destaquei uma meia dúzia de versículos, mas essa lista pode ser muito maior.

Certamente, haverá quem defenda a perfeita exegese do citado pastor, dizendo que era para ensinar uma determinada coisa etc.

O problema é que a Bíblia diz o seguinte: "Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro" (Apocalipse 22. 18-19).

E ainda: "Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo." (Tiago 3.1)

Pra fechar, fica um versículo para a meditação dos irmãos: 

"Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente."

terça-feira, 19 de abril de 2011

Conspirações mundiais



Eu já escrevi, em outros tempos, sobre o meu medo da publicidade, aquilo que se torna público, que sai da instância do privado, do indivídual e ganha status de plural, pertencente a todos. Essa história de vida privada pública não é pra mim. Nunca conseguiria conviver com a fama.

Não é uma crítica direta ao Big Brother Brasil, A Fazenda, Revista Caras, Tititi ou qualquer veículo análogo. Minha ideia hoje é pensar na mudança de postura da sociedade informatizada e tecnológica.

Twitter, Facebook, Orkut e outros portais afins nos incentivam a "publicar" nossas vidas. Há ali preferências, profissão, músicas, bairros que frequentamos, cidades que visitamos, fotos íntimas e uma série de outras coisas que, 20 anos atrás, era assunto para um grupo pequeno de uns 10 amigos e parentes próximos...

Minha cabecinha de teoria da conspiração, leitora de Left Behind, aficcionada por escatologia me leva a pensar que existe uma força maior, talvez uma mente maligna que está formatando as pessoas para agirem assim. Para que todo mundo ache normal ter a vida pública, não ter privacidade.

George Orwell, no livro 1984, "previu" uma sociedade que era vigiada todo o tempo por um aparelho eletrônico que permitia ao "Grande Irmão" saber de tudo o que se passava no mundo. Todo o mundo estava sob um governo autoritário que escondia da população a realidade da guerra, da tortura e da fome.

Na China, a fim de acirrar a vigilância sobre qualquer reação contrária ao governo, foi disseminada a cultura da "invasão". É comum para um chinês ter que responder perguntas consideradas íntimas (salário, sexualidade, instrução) desde a primeira conversa.

Pois é... acho que estamos diante de algo assim: uma nova ordem mundial, o governo do anti-cristo, ou qualquer coisa semelhante que está cultivando uma espécie de "cultura da publicidade". Tudo o que eu faço, digo ou penso, imediatamente, ganha status  de público através da internet.

Fiz um bolo. Eu escrevo no facebook sobre o bolo. Meus amigos leem sobre o bolo. Eu coloco uma foto do bolo. Meus amigos pedem um pedaço do bolo. E sei lá mais quem também lê isso e descobre que eu faço bolo, se fica gostoso ou não, quais são meus amigos que gostam de bolo e por aí vai...

Imagine a foto do seu filho indo para a natação, sua mãe indo pra academia, seu pai no futebol com os amigos. O que se pode fazer de posse desse tipo de informação?

Não duvido de que estejamos sendo "adestrados" para publicar nossas vidas.

Há quem filme o desepero de uma criança porque matou um passarinho e poste isso na internet. Há quem registre duas pessoas tendo relações sexuais e publique no youtube.

Não duvido que cheguemos a um tempo em que seja todo mundo ache normal ter câmeras em todos os cômodos da casa e não se tenha mais privacidade, nem pra fazer as necessidades fisiológicas...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Intensamente



Um dos meus livros preferidos da Bíblia é Eclesiastes. Salomão, neste livro, prega uma mensagem bastante preciosa e muito atual. Ele mostra o quão valioso é o tempo e como é importante viver a vida intensamente. Logo no início do livro, o autor questiona: “Eu queria saber o que valesse a pena, debaixo do céu, nos poucos dias da vida humana” (Eclesiastes 2. 3–NVI).

Salomão é realista quanto à durabilidade da vida: a vida é curta, por isso, usufruir dela é urgente. Em vários momentos, o discurso do rei pode soar pessimista, como, por exemplo, no seguinte trecho “quando avaliei tudo o que as minhas mãos haviam feito e o trabalho que eu tanto me esforçara para realizar, percebi que tudo foi inútil” (Eclesiastes 2.11-NVI). Pois é... Que valor tem o que fazemos? O que realmente vale alguma coisa? Em que podemos investir sem medo?

Se o sábio Salomão teve riquezas, mulheres e sabedoria e, ainda assim, considerou tudo isso inútil, o que vale? Ele mesmo respondeu: “descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive” (Eclesiastes 3. 12-NVI) E, no capítulo 9, ele completa a ideia: “o que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria” (Eclesiastes 9. 10-NVI). Em outras palavras, ele nos incentiva a vivermos intensamente!

O que seria viver intensamente?

Muitas pessoas, certamente, diriam que viver intensamente inclui badalar, namorar, se divertir, viajar, fazer tudo o que “der na telha”. E para Jesus, o que seria viver intensamente? A Bíblia nos ensina que o modo de vida de Jesus contraria o senso comum, Jesus inverteu valores. Ele declarou: “Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará.” (Mateus 10. 39-NVI). Ele nos ensinou que a nossa justiça deve exceder a dos escribas e fariseus. Ou seja, devemos ir além do que os que não conhecem a Jesus vão.

Pessoalmente, penso que viver intensamente é não deixar para amanhã, é não adiar, é não perder oportunidades. Moisés, no Salmo 90, diz que a vida passa depressa e passa mesmo! Com o contexto social em que vivemos, não há certeza de voltarmos para casa, nos surpreendemos todos os dias com pessoas que ficam doentes ou morrem de repente. Diante da efemeridade da vida, devemos aproveitá-la intensamente, viver cada segundo como se fosse o último, não deixar para depois a chance de declarar seu carinho pelas pessoas que você ama, ou de explanar o amor de Deus para quem ainda não O conhece.

Houve um tempo em que, dia após dia, semana após semana, achava minha vida sempre a mesma: andando em círculos... Descobri que essa repetição não é viver intensamente. Eu estava perdendo oportunidades de ser quem Deus queria que eu fosse, de fazer o bem a quem me cerca e de expressar o amor de Deus. Se você está vivendo todos os dias como se fossem o mesmo, avalie se você está vivendo intensamente, se você está desfrutando da vida abundante que Jesus ofereceu (Cf João 10.10).

Deus criou você com habilidades e talentos únicos e, certamente, deseja que você os utilize para glorificá-lO em cada chance que tiver. Só Deus sabe quando você terá outra oportunidade e se terá outra chance.

Num dos versículos finais de Eclesiastes, Salomão conclui que o essencial para o homem é temer a Deus e guardar Seus mandamentos (Cf. Eclesiastes 12. 13).

No desejo de que você viva intensamente, concluo com os versos de Myrtes Mathias do poema “Agora”:

Não esperes o instante da partida:
Se podes me fazer feliz, faze-me agora.
Para que chorar de remorso e saudade?
Custa tão pouco a felicidade:
Dá-me uma flor antes que eu vá embora.